3.1.12

Desejos íntimos

Sentou naquele habitual banco de praça com seu habitual almoço, disposto de forma aleatória dentro de sua marmita. Comeu, sem muito entusiasmo. Olhou em volta, esperando encontrar alguém interessante. Viu ela, bela como sempre, atravessando a rua no mesmo horário de todos os dias, para pegar seu luxuoso carro que ele mal sabia pronunciar o nome. Pensou em como ela ficava cada dia mais estonteante, sempre usando roupas esvoaçantes de grifes famosas e joias tão brilhantes que quase ofuscavam sua beleza natural. Não, para ele, ela jamais seria ofuscada. Tinha um corpo escultural e uma cor de pêssego que o faziam sonhar acordado com o dia em que poderia tê-la em seus braços. Ele, aquele ogro semi-analfabeto e sem futuro, beijando os lábios carnudos daquela afortunada princesa, tirando-lhe a roupa com violência e possuindo-a selvagemente em uma noite de luxúria. Enquanto pensava em tudo isso, olhava-a fixamente, sem o menor pudor.

Ela, por sua vez, retribuía com um sorriso no canto da boca, que oscilava entre a timidez e a malícia. Sabia que ele a desejava e queria alimentar aquela aventura imaginária. Desde o primeiro dia em que o viu ali, sentado no banco da praça em frente ao condomínio onde morava, percebeu o olhar fixo dele em seu corpo, como se estivesse despindo-a completamente. Incomodou-se, no início, com o jeito descarado daquele sujeito maltrapilho, suado, exalando um forte odor de quem passou o dia trabalhando debaixo do sol escaldante em alguma construção. Incomodou-se tanto que passou a vê-lo em seus pesadelos, perseguindo-a e tocando-a com aquelas mãos sujas e fétidas. Com o tempo, o pesadelo tornou-se algo melhor. Passou a criar fantasias com o pedreiro. Sempre fora criada para se tornar uma dama da alta sociedade, casando-se com um rico empresário que lhe dava tudo, mas ela nunca se sentia completamente satisfeita. Passou a aguardar ansiosamente o momento em que atravessava a rua para pegar seu carro, estacionado estrategicamente naquele lugar. Começou a usar roupas cada vez mais curtas e transparentes, tentando manter o desejo daquele homem, que agora fazia com que ela se sentisse mais mulher. Jamais contaria a alguém esses seus pensamentos, jamais os colocaria em prática. Contentava-se em ser admirada, desejada. Contentava-se em sentir-se uma devassa por dentro.