30.8.12

Desmemórias

Esqueci.
Esqueci o que pensava.
Esqueci o que pensava em escrever aqui.

Esqueci o que ia fazer quando levantei da cadeira;
Esqueci o que queria quando abri a porta da geladeira;
Esqueci o que ia falar quando liguei para o seu celular.

Esqueci...
Esqueci o que que ia concluir no longo discurso que planejava...!

13.8.12

A perda


Como pude perder ela?
O que fiz de errado?!

"Só valorizamos o que perdemos"; me disseram!
Idiota fui ao não perceber meu erro.
Se tivesse me tocado antes.
Se pudesse voltar no tempo.
Onde foi que errei...?
Onde?!

Ah, o arrependimento... O que farei agora?
Não posso voltar no tempo.
Como remediar?
O que farei?!

Penso, repenso e fico tenso.
Lembro... ou tento lembrar.
Apaguei da memória.
Não há mais tempo à perder.
Como farei?!

7.8.12

Cinefilia


   Amelie era uma cinéfila. Seu verdadeiro nome era Amanda, mas Amelie soava mais Hollywoodiano - pelo menos era o que "Amelie" pensava.
   Amelie sonhava que um dia uma coruja chegaria em sua casa, lhe convocando para Hogwarts; que um dia encontraria um bilhete dourado em uma barra de chocolates, lhe concedendo uma visita à Wonka; que um dia encontraria um anel que lhe daria poderes; que seguiria por um caminho de tijolos amarelos pela Terra de Oz; e por ai segue. Despedia-se de seus amigos dizendo: "Que a força esteja com você"; sempre que tinha um problema, sussurrava: "Houston, we have a problem". Quando surgia qualquer perigo gritava: "Run, Forest, Run". E quando algo dava errado batia as mãos dizendo: "Corta!".
   Amelie decorou praticamente todas as falas dos maiores clássicos do cinema mundial; e as usava em seu dia a dia. No início apenas uma brincadeira, mas com o tempo tornou-se um vício... incontrolável. Quando Amelie ganhou uma aliança de seu namorado, ficou em total silêncio olhando-a na palma de sua mão... e depois pronunciou, com muito sentimento: "My Precious..." - e tossiu de estranho modo algumas vezes (ato que repetia frequentemente). Quando Amelie fez uma proposta de trabalho à um funcionário, disse antes de qualquer coisa: "Eu vou lhe fazer uma proposta que você não poderá recusar". Quando Amelie iniciou um Clube do Livro em sua escola, começou a primeira reunião dizendo: "A primeira regra do Clube do Livro é 'nunca fale sobre o Clube do Livro', a segunda regra do Clube do Livro é 'nunca fale sobre o Clube do Livro'". Quando Amelie foi promovida no seu trabalho, respondeu para seu chefe: "Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades" - mas seu chefe sequer gostava de filmes, e ficou na dúvida se havia feito a coisa certa. E assim iniciou-se a decadência moral de Amelie.
   Amelie progressivamente começou a comunicar-se apenas em uma pontuação, termos e fonética típica dos diálogos de filmes. Também criou uma quase certeza de que toda sua vida era filmada, como em "O Show de Truman"; e por isto evitava fazer "certas coisas". Amelie tinha uma certeza inabsoluta de que em outra vida lutou na guerra, assim como foi prisioneira de campos de concentração e piloto de avião. Com o tempo Amelie não suportou mais ir à praia, com terror de "Tubarão"; sequer andar de qualquer transporte hidroviário, com fobia de se repetir um "Titanic"; nunca mais entrara em uma avião, com um trauma não vivido de "Naufrago"; e jamais tomava sequer uma rápida ducha em um banheiro com cortinas, com receio de "Psicose".
   Amelie certo dia notou que toda sua vida realmente era "cinematográfica"; mas contrariando o esperado, em vez de buscar ajuda médica, achou que faltava apenas um detalhe para sua história ficar completa: uma morte cinematográfica. E assim Amelie planejou cada detalhe de como iria morrer: data, local, situação, últimas palavras, vestido, iluminação, etc. Resumidamente: iria ser empurrada do alto de um prédio, durante uma discussão com um (fictício) amante, caindo em frente à uma cafeteria cheia de frequentadores. Contratou maquiadora, figurantes, entre outros. Com tudo pronto, Amelie preparou-se para aquele que seria o ponto máximo no filme de sua vida: o fim desta. Fez sua última refeição... e ao atravessar a rua, para subir ao prédio, morreu atropelada por um ônibus. Apenas uma pequena nota foi publicada em um jornal de baixa circulação.

2.8.12

Afogados


João sempre tomava um copo de uísque depois do trabalho para afogar os problemas diários entre dois cubos de gelo. Um dia, o bar fechou. Então, os problemas afogaram ele entre as duas margens do fétido rio que passava em frente ao seu trabalho.