[perdoem o trocadilho]
Resolvi variar um pouco e, ao invés de pegar a linha cinza para a estação de ônibus, pensei em pegar o trem 7, que faz o mesmo percurso, só que mais demorado. O metrô estava lotado, como sempre, e o ar, cheio de barulhos. Mas um grupo de barulhos se junta e forma uma música. Não é nada incomum, em uma cidade como essa sempre tem alguém tocando música no metrô. Mas essa é diferente… A letra, a melodia…
Sempre fui apaixonada por todo o tipo de arte… plástica, literatura, música. Mas dificilmente ela me cativa a ponto de eu me arrepiar fisicamente. Essa música me arrepiou. Dois caras, perto dos 30, tocando guitarra e baixo, e cantando. CDs a 10 dólares cada, muito caro, não pago isso. Mas a música! A música era fantástica!
Aí eu senti que o celular vibrou dentro da bolsa… tenho que me apressar ou vou perder o ônibus de volta para casa. Mas a música era tão boa, será que eu tinha mesmo que ir?
Mais um pouquinho, mas eu acabo tendo que ir embora eventualmente. Entrei no trem errado, peguei o 6. Fui descendo pelo metrô, ainda abalada com aquela música tão... tão ótima. Desci na rua errada, num bairro estranho. Já estava escuro e não queria ficar andando por um lugar que eu não conhecia direito àquela hora.
Mas aquela música!
Voltei para a estação principal, procurando àqueles cantores espetaculares. O lugar onde eles estavam estava vazio, com alguns papéis amassados no chão, apenas o barulho dos trens e o cheiro de pessoas ficou por lá. Decepcionada, eu entrei no trem de sempre, da linha cinza, peguei o ônibus e volto para casa, sem prestar atenção em nada à minha volta. Eu não sabia naquela hora, mas, desde aquele dia, toda vez que eu entrasse no metrô, eu procuraria àquela dupla, cantando nos subterrâneos fedidos.
Nunca soube o nome deles nem o da música que eles tocaram… mas aquela tarde no metrô nunca saiu da minha cabeça.
