3.4.12

Telefone desfixado

   Acordei assustado com um barulho estranho. Tinha aquela impressão de que o som vinha de dentro do meu apartamento. Levantei em um pulo e abri a porta; passei pelo corredor tentando adivinhar de onde viria aquele som. Pressupus a direção, depois de muitos virares de cabeça tentando de uma forma totalmente instintiva gerar o melhor ângulo para que o som se propagasse para dentro de minhas orelhas - como um cão que gira a cabeça quando ouve algo desconhecido. Definitivamente o som vinha da minha sala.
   Fui seguindo o termitente som como quem segue o bip-bip de uma bomba relógio. Passo a passo, lentamente, me aproximei de uma mesinha, ao lado de uma cadeira. Estendi a mão, com todo o cuidado humanamente possível, e retirei uma jaqueta - jogada em algum momento qual me falha a memória - de sobre onde certamente vinha o som. Qual surpresa foi ao reparar que aquilo aparentemente era um telefone-fixo.

   Não me entendam mal, eu sei o que é um telefone-fixo, Graham Bell (ou seja lá quem foi o verdadeiro inventor) e todo o mais. Até já falei por um. Mas sou da geração celular e blá blá blá. E vocês também se surpreenderiam se vissem um telefone-fixo tocando na sua sala... afinal, eu nem sabia - ou lembrava - que eu tinha um telefone-fixo. Em todos estes anos, esse aparelho nunca tocou.
   Mas tive de encarar meus receios e o sentimento de surpresa, e levantei o gancho; levei este até minha orelha, e pronunciei com uma encenada calma: - Pronto!?
- Olá senhor. Bom dia. Represento a empresa Qualquer Coisa Ltda, e gostaríamos de estar ver verificando se o senhor estaria interessado em nossa linha de produtos.
- Hummm.
- Senhor?
- É...
- Senhor... alguma dúvida?
- Sim.
- Qual a dúvida, senhor?
- Apenas uma.
- Pois não, senhor?
- Qual é o número deste meu telefone? Eu nem lembrava que ele existia...