26.3.12

Idade


Um dos maiores choques na vida de uma mulher é o momento em que ela se olha no espelho e percebe que está envelhecendo: a primeira ruga é sempre um divisor de águas. Digo isso com propriedade pois, há alguns dias atrás, isso aconteceu comigo. Um pouco antes de dormir, depois de colocar o pijama e tirar a maquiagem, parei na frente do espelho e fiquei pensando: quem é esta jovem senhora que está ali do outro lado? Sim, eu estava me chamando de senhora, no auge dos meus 27 anos de idade!

Eu sei, neste momento muitas mulheres devem estar furiosas, abandonando este texto, enquanto esbravejam contra esta ‘menina’ que vos escreve. “Ela tá se achando velha antes dos 30? Imagina quando chegar aos 60!” – dirá uma. “Isso é uma falta de respeito comigo, se essa garota pensa que está velha aos 27, o que deve pensar sobre mim, que tenho 54?” – pensará a outra.

Mas, queridas leitoras, fiquem e compreendam meu raciocínio. Se vocês já passaram pelo doloroso despertar para  a maturidade, tentem se lembrar da primeira vez em que perceberam que o tempo havia passado. Não importa a idade nem a quantidade de rugas no rosto. Lembrem do sentimento. Revivam este sentimento por um instante. Recordem-se de como foi doloroso descobrir tal fato e que não fazia diferença nenhuma se seu namorado, marido ou até sua irmã mais nova dissessem que você continua linda e maravilhosa e nem dá para ver as marcas de expressão.

Pois é, a gente sempre se sente igual. Afinal, somos mulheres e, para nós, a autoestima é fundamental. Não é só uma questão de beleza, é muito mais de aceitação. Por isso, como eu ainda não estou aceitando a minha descoberta, vou ali comprar uns creminhos anti-idade e já volto. Tchau. 


Originalmente publicado no jornal Correio do Povo de 22 de março de 2012.

13.3.12

Bicicleta de Lomba

Olhei para o lado e vi minha bicicleta escorada na parede, com os pneus murchos e o banco estragado.
Comprei esta bicicleta para facilitar meu trajeto até o trabalho; qual já estava facilitado, pois me mudei a pouco tempo para mais perto, à fim de evitar perder tanto tempo em trânsito - afinal de contas, eu poderia pegar estas cerca de 3h de trânsito diárias e gastar em 'nadismo'.

Andei alguns dias de bicicleta até a empresa, o que tornou o trajeto ainda mais rápido e prático. O vento na cara me proporcionava uma sensação de liberdade, mas estragava meus cabelos (os poucos que ainda restam). Na realidade também não me permitia andar lendo (sim, aprendi a fazer isto à algum tempo, para aproveitar ainda mais o tempo "livre"). Mas a bicicleta acabou estragando e foi mais fácil deixá-la encostada na parede do que fazer a manutenção necessária.

6.3.12

Ocupada demais

Ana era uma jovem sonhadora, recém chegada à segunda década de vida. Apesar da curta viagem, o caminho lhe proporcionara vários obstáculos que lhe calejara as mãos...e o coração. Tinha tantos sonhos, mas o único que lhe tirava o sono era o amor não correspondido de seu ex-namorado, Rafael.

Ana e Rafael tiveram, por um ano e pouco, o frescor da paixão ardendo dentro de si e com isso saborearam doces e incríveis momentos. Ana não esquece, nem Rafael. Por mais que o destino tenha os separado, a saudade visita e o tempo não apaga o que da vida já se construiu.

Um relacionamento tão jovem e encantador como esse, normalmente é conturbado na despedida. Ambos haviam experimentado pela primeira vez na vida o amor, a rosa...mas também os espinhos e, nesse sentido, Ana não havia digerido os espinhos. Ainda chorava o desejo, mesmo que seu primeiro amor não tivesse nada além de memórias dentro de um magoado coração. À cada novo dia - que parecia ser mais longo - e à cada noite perdida de sono, sua autoestima descia vários degraus. Sentia-se menor...incapaz de amar e ser amada, apesar de no fundo saber que era uma grande garota. Sonhadora porém cultivadora dos pequenos detalhes, sedenta pela vida e pelo amor que sentia-se capaz de proporcionar. Sabia de suas qualidades, mas nesse momento Ana só enxergava um ponto escuro em meio à folha totalmente branca.

Ana em sua triste empreitada conheceu Marcelo, que apesar de ouvir os lamentos de Ana por longos dias e oferecer-lhe o ombro, a palavra e a cumplicidade, tinha dentro de si a certeza que poderia dar à Ana o que de melhor aquela jovem merecia. Sabia também que ultimamente Ana não dava atenção pra rapaz nenhum, fosse ele malandro ou um gentleman, como ele mesmo. Mas nunca desistiu, fez o que de melhor podia e mesmo que tentasse, Ana estava ocupada demais...

Ocupada demais carregando suas pesadas malas, cheias de pesos desnecessários. Por vezes cansada, abria suas malas e remexia tudo ali dentro, mas nada retirava. Estava ocupada demais alojando dentro de si o que já deveria ter ido embora há algum tempo, e tão ocupada não tinha tempo para os outros... nem pra Marcelo. Havia tornado-se refém de seus medos, de ficar sozinha, mesmo que a solidão já lhe habitasse por tempos.

Ana acomodou-se na dor e criou laços com suas dificuldades. Por vezes proferia: "Eu sou assim -e não posso mudar", criando uma máscara que escondesse sua face, de seu coração. De reconhecer que havia sido derrotada e a partir dessa etapa começar a superar sua perda. Mas Ana estava ocupada demais, ocupada demais em viver a vida de seu ex-namorado, antes mesmo da sua. Dizia amá-lo tanto e, mesmo na dor, acreditava poder proporcionar à ele uma grande história de amor, ainda que não pudesse fazer isso a si mesma.
Marcelo partiu e, com ele, partiram novos encontros e desencontros.
Ana? Bem, Ana segue sua luta...contra suas malas. E nelas um bilhete deixado por Marcelo:

"Andar na direção do outro é também fazer uma viagem. Mas não leve muita coisa. Não tenha medo das ausências que sentirá. Ao adentrar o território alheio, quem sabe assim os seus olhos se abram para enxergar de um jeito novo o território que é seu. Não leve os seus pesos. Eles não lhe permitirão encontrar o outro."